segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

UFFS - Campus Chapecó discute heterossexismo e experiências trans na educação

Emoção com um relato de sofrimento e superação. Esse foi o sentimento da plateia que participou na noite de quarta-feira (11) da mesa redonda “Heterossexismo e Experiências trans na educação”, realizada na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Chapecó, com Arianna Sala e Sophia Caroline Samenezes de Jesus, integrantes do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Uma mesa-redonda com o objetivo de refletir sobre e na contramão das ações discriminatórias em torno das identidades homo e trans em processos educacionais.
Sophia Caroline Samenezes de Jesus, trans mulher, falou sobre sua experiência com a família e o seu ingresso na universidade. De acordo com ela, a dor e o preconceito marcaram sua trajetória. “O primeiro lugar onde sofri preconceito foi com a minha família. Foi meu primeiro isolamento social”, contou.
Cansada de não ser aceita, Sophia abandonou a família, a escola e a cidade, mudando-se para Florianópolis. “Ali também não me livrei do hostilidade e da humilhação pública”, revelou.
A superação veio após um período na prostituição e nas drogas. Hoje Sophia cursa Letras Espanhol na UFSC. Para ela, o preconceito impede as pessoas trans de permanecerem na escola. “O projeto político pedagógico das escolas é excludente para as pessoas trans. Os insultos, a dificuldade até em usar os banheiros e a falta da política do nome social expulsam as pessoas transgêneros da escola”, afirmou.
Para ela, a inclusão deve ser feita através de políticas públicas que permitam o trânsito e a permanência dessas pessoas na escola. “O nome social é a melhor ferramenta e meio de acesso a todas as instituições, não só de ensino, e é também o resgate da nossa identidade”, concluiu.
Na sua vez, Arianna Sala falou sobre a dificuldade das escolas e universidades debater com os alunos temas relacionados a gênero e sexualidade e, dessa forma, por não tratar desses temas legitimam as relações de poder, hierarquias e os processos de acumulação. “A escola não apenas transmite ou constrói conhecimento, mas também reproduz padrõe sociais, perpetuando concepções e clivagens sociais”, afirmou.
De acordo com Arianna, a inclusão de pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTTT) é confrontada com os preconceitos dos próprios professores. “A escola evita falar sobre esses temas, afirmando que na própria escola não existem essas pessoas. Nesse caso, a omissão quanto à homofobia existente nesses espaços já é uma ação de exclusão”, explicou.
Uma das alternativas, para ela, é a construção de uma pedagogia libertadora. “É preciso questionar os processos sóciocurriculares e políticos que desvalorizam a diversidade”, finalizou.

Papo Sério

Durante sua fala, Arianna também apresentou o projeto de extensão desenvolvido pelo NIGS chamado Papo Sério. O projeto, que atua desde 2007, busca um espaço de reflexão para desconstruir as ideias de gênero e sexualidade. Além de contribuir para a formação continuada dos educadores para tratar desses temas em sala de aula.
Papo Sério desenvolve oficinas temáticas nas escolas sobre sexualidade, gênero e violências, além de um concurso de cartazes, que busca fazer uma reflexão transversal sobra as causas das discriminações. Até esse ano, o projeto esteve em 40 escolas e trabalhou com aproximadamente 1,5 mil estudantes.

Tarde de Formação

Também na quarta-feira (11), pela parte da tarde, bolsistas do Projeto PIBID Ciências Sociais e do projeto PIBIC EM, docentes e técnico-administrativos da UFFS – Campus Chapecó participaram do II Encontro de Formação do Projeto "Antropologia, Gênero e Educação em Santa Catarina" (PRONEM/FAPESC/CNPQ) com Arianna Sala, Sophia Caroline Samenezes de Jesus, Bruno Cordeiro e Geni Núnez, do NIGS.
O objetivo foi realizar uma formação em gênero e sexualidade para fortalecer projetos educacionais e políticas públicas de respeito as diversidades, principalmente dentro da Universidade.
Tanto a mesa redonda quanto a tarde de formação foram promovidas e realizadas pelo Projeto Antropologia, Gênero e Educação em Santa Catarina (PRONEM/FAPESC/CNPQ) e pelo projeto PIBID Ciências Sociais Chapecó (UFFS/PIBID/CAPES).

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