Emoção
com um relato de sofrimento e superação. Esse foi o sentimento da
plateia que participou na noite de quarta-feira (11) da mesa redonda
“Heterossexismo e Experiências trans na educação”, realizada
na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Chapecó,
com Arianna Sala e Sophia Caroline Samenezes de Jesus, integrantes do
Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS), da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Uma
mesa-redonda com o objetivo de refletir sobre e na contramão das
ações discriminatórias em torno das identidades homo e trans em
processos educacionais.
Sophia
Caroline Samenezes de Jesus, trans mulher, falou sobre sua
experiência com a família e o seu ingresso na universidade. De
acordo com ela, a dor e o preconceito marcaram sua trajetória. “O
primeiro lugar onde sofri preconceito foi com a minha família. Foi
meu primeiro isolamento social”, contou.
Cansada
de não ser aceita, Sophia abandonou a família, a escola e a cidade,
mudando-se para Florianópolis. “Ali também não me livrei do
hostilidade e da humilhação pública”, revelou.
A
superação veio após um período na prostituição e nas drogas.
Hoje Sophia cursa Letras Espanhol na UFSC. Para ela, o preconceito
impede as pessoas trans de permanecerem na escola. “O projeto
político pedagógico das escolas é excludente para as pessoas
trans. Os insultos, a dificuldade até em usar os banheiros e a falta
da política do nome social expulsam as pessoas transgêneros da
escola”, afirmou.
Para
ela, a inclusão deve ser feita através de políticas públicas que
permitam o trânsito e a permanência dessas pessoas na escola. “O
nome social é a melhor ferramenta e meio de acesso a todas as
instituições, não só de ensino, e é também o resgate da nossa
identidade”, concluiu.
Na
sua vez, Arianna Sala falou sobre a dificuldade das escolas e
universidades debater com os alunos temas relacionados a gênero e
sexualidade e, dessa forma, por não tratar desses temas legitimam as
relações de poder, hierarquias e os processos de acumulação. “A
escola não apenas transmite ou constrói conhecimento, mas também
reproduz padrõe sociais, perpetuando concepções e clivagens
sociais”, afirmou.
De
acordo com Arianna, a inclusão de pessoas Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTTT) é
confrontada com os preconceitos dos próprios professores. “A
escola evita falar sobre esses temas, afirmando que na própria
escola não existem essas pessoas. Nesse caso, a omissão quanto à
homofobia existente nesses espaços já é uma ação de exclusão”,
explicou.
Uma
das alternativas, para ela, é a construção de uma pedagogia
libertadora. “É preciso questionar os processos sóciocurriculares
e políticos que desvalorizam a diversidade”, finalizou.
Papo
Sério
Durante
sua fala, Arianna também apresentou o projeto de extensão
desenvolvido pelo NIGS chamado Papo Sério. O projeto, que atua desde
2007, busca um espaço de reflexão para desconstruir as ideias de
gênero e sexualidade. Além de contribuir para a formação
continuada dos educadores para tratar desses temas em sala de aula.
Papo
Sério desenvolve oficinas temáticas nas escolas sobre sexualidade,
gênero e violências, além de um concurso de cartazes, que busca
fazer uma reflexão transversal sobra as causas das discriminações.
Até esse ano, o projeto esteve em 40 escolas e trabalhou com
aproximadamente 1,5 mil estudantes.
Tarde
de Formação
Também
na quarta-feira (11), pela parte da tarde, bolsistas do Projeto PIBID
Ciências Sociais e do projeto PIBIC EM, docentes e
técnico-administrativos da UFFS – Campus Chapecó participaram do
II Encontro de Formação do Projeto "Antropologia, Gênero e
Educação em Santa Catarina" (PRONEM/FAPESC/CNPQ) com Arianna
Sala, Sophia Caroline Samenezes de Jesus, Bruno Cordeiro e Geni
Núnez, do NIGS.
O
objetivo foi realizar uma formação em gênero e sexualidade para
fortalecer projetos educacionais e políticas públicas de respeito
as diversidades, principalmente dentro da Universidade.
Tanto
a mesa redonda quanto a tarde de formação foram promovidas e
realizadas pelo Projeto Antropologia, Gênero e Educação em Santa
Catarina (PRONEM/FAPESC/CNPQ) e pelo projeto PIBID Ciências Sociais
Chapecó (UFFS/PIBID/CAPES).
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